quinta-feira, 13 de março de 2008

Carta ao IB-USP, da docente Regina Célia Mingroni Neto

Do site do Instituto de Biociencias/USP
www.ib.usp.br


Construção de usina hidroelétrica no Vale do Ribeira afeta populações tradicionais.
Escrito por Seção Técnica de Informática
Qui, 06 de março de 2008 17:14

Carta ao IBUSP

..........Apesar das controvérsias de cunho social e ambiental, equipe técnica do IBAMA emitiu relatório concluindo pela viabilidade ambiental da usina hidrelétrica de Tijuco Alto, no Vale do Ribeira.
..........Essa conclusão é, sem dúvida extremamente preocupante para aqueles que convivem com as realidades ambientais e sociais do Vale do Ribeira, o que é o caso de nossa equipe do Laboratório de Genética Humana.

..........Estamos envolvidos com as populações de remanescentes de quilombos do Vale do Ribeira desde o ano de 2000. Visitamos as populações colhendo informações clínicas, genealógicas e material para exames diversos de laboratório, relacionados a nossas pesquisas. Já realizamos diversos trabalhos com doenças hereditárias, como por exemplo, a anemia falciforme. Com colegas da FMUSP estudamos patologias infantis como a anemia carencial e doenças parasitárias, e também doenças dos adultos, como a hipertensão e a obesidade.
..........Preocupa o fato de que esse empreendimento será executado pela iniciativa privada com a finalidade de fornecer energia elétrica para empreendimento também privado e que nenhum benefício de cunho social possa ser visualizado para o progresso dessas populações.
..........Mudanças no curso do rio que ocorrerão na região resultarão no deslocamento de algumas populações de quilombos, já tão encurraladas em virtude das áreas de proteção ambiental que reduziram as áreas disponíveis para agricultura tradicional praticada por essas comunidades. Seu modo de vida, já tão modificado pela redução da área para plantio, será mais uma vez drasticamente alterado. Os índices de sobrepeso e hipertensão encontrados nessas populações são comparáveis aos observados em grandes metrópoles, o que resulta provavelmente da erosão do sistema de subsistência tradicional. Isso indica que as interferências recentes em seu modo de vida estão surtindo efeitos na saúde da população. Não é difícil imaginar que efeitos teriam esse e outros empreendimentos semelhantes que estão previstos para a região sobre os tesouros da fauna, da flora, das cavernas, da arqueologia e da antropologia locais, que agora começam a ser explorados pelos cientistas, muitos dos quais
colegas do Instituto de Biociências da USP.
..........Como docente da Universidade de São Paulo, chamo a atenção dos colegas, funcionários, alunos de graduação e pós-graduação sobre essa triste realidade.
Regina Célia Mingroni Netto
Laboratório de Genética Humana
Centro de Estudos do Genoma Humano

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