sexta-feira, 11 de abril de 2008

Reportagem da Carta Capital sobre as Cavernas do Vale do Ribeira


Enquanto isso, nas cavernas...


http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=532

28/03/2008 18:40:26

Milene Pacheco

A construção da Usina Hidrelétrica Tijuco Alto não é a única preocupação dos moradores do Vale do Ribeira. Nas últimas semanas, eles passaram a conviver com a suspensão das visitas às famosas cavernas da região. Em ambos os casos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) estava envolvido – e não faltaram críticas à sua atuação.

Além de interditar as cavernas, o Ibama também multou a Fundação Florestal, órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, responsável pela administração dos parques. Ao contrário do que acontece com a microrregião onde a CBA pretende construir sua usina, a área próxima às cavernas é rica em biodiversidade e conta com alguns pontos de Mata Atlântica primária, outro atrativo turístico.

A justificativa para o embargo foi a ausência de planos de manejo espeleológicos, um estudo que mapeia os riscos para os turistas e estima a degradação ambiental associada à visitação pública. A medida foi adotada como resultado da ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, em tramitação desde 2001. O Ibama também justificou a escolha das cavernas interditadas pelo “notório estímulo à visitação, com ampla divulgação e cobrança de ingressos para a entrada”.

O espeleólogo Clayton Ferreira Lino, presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – instituição que faz parceria com a Fundação Florestal em projetos desenvolvidos na região do Vale do Ribeira –, afirma que as cavernas interditadas são as mais
conservadas do Brasil e que, mesmo sem ter o plano de manejo finalizado, os quatro parques – Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), Intervales, da Caverna do Diabo e do Rio Turvo – vêm realizando, há alguns anos, estudos neste sentido. Lino também afirma que apenas dez cavernas possuem plano de manejo no País.

A interdição causa prejuízos aos moradores. Como o turismo é a principal atividade econômica no entorno dos parques, uma parcela expressiva da população perdeu sua principal fonte de renda. Para tentar amenizar os danos, o Ibama autorizou a reabertura de seis cavernas durante o feriado da Páscoa, depois de uma reunião realizada dia 20 de março, entre representantes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, do Ibama, famílias diretamente afetadas e administradores dos parques.

A medida paliativa não surtiu, porém, os efeitos desejados, de acordo com empresários locais. Localizada no município de Iporanga, a Pousada Casa da Pedra, com capacidade para cem pessoas, recebeu somente seis hóspedes no feriado. A proprietária, Sônia Aparecida Santos, diz que a imprensa tem contribuído para espantar os turistas, pois estaria omitindo a informação de que ainda existem muitas cavernas que podem ser visitadas na região. Neste caso, contudo, quase sempre inexiste qualquer tipo de infra-estrutrura. “Os turistas estão sendo levados às grutas em torno dos parques, as quais, na maioria dos casos, encontram-se em situação ainda mais frágil”, afirma Lino. Como compensação, aqueles impedidos de trabalhar estariam partindo para a extração ilegal de palmito.

No dia 12 de março, a Fundação Florestal protocolou um documento com as propostas técnicas para a execução do plano de manejo, que levará dois anos para ser finalizado. Também protocolou as propostas para as ações emergenciais que devem ser realizadas a curto, médio e longo prazo. No momento, a fundação informa que aguarda a resposta do Ibama. O órgão federal negou o pedido de reabertura das cavernas, feito pela fundação na reunião do dia 24. E afirma que não tem previsão de quando isso ocorrerá.

Por ora, uma equipe da Fundação Florestal e do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, percorre os parques afetados para realizar um plano de emergência e definir os ajustes e os termos para a realização dos estudos de manejo.

Leia também:
Um vale de dúvidas - 28/03/08
Phydia de Athayde, de Cerro Azul (PR) e Ribeira (SP)
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=531

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